Ontem, dia 13 de Abril de 2015, foi o meu primeiro
dia de atividade em escola pelo PIBID. Com certeza não poderia ter sido melhor.
Por não conhecer a região do Uruguai, acordei 4
horas da manhã para compreender essa viagem de casa para a Escola Almerinda
Costa sem muitas surpresas. Tomei um café reforçado, escolhi uma roupa agradável
aos padrões de vestimenta de espaços sociais desse sistema e fui amar...
Era uma manhã de Sol. Cheguei na Escola antes mesmo
do vigia Valter chegar, meio que abri a escola, senti um ambiente agradável e
eu e Valter conversamos bastante até a chegada do professor Marcus.
O professor Marcus me levou pra conhecer os espaços
da escola e depois fomos conhecer o espaço da aula de música. As aulas de
música acontecem na sala de informática da Escola, por ser um ambiente mais
fechado, não atrapalhando o andamento das demais aulas ao entorno.
Eu e o professor conversamos um pouco, momento em
que ele pôde me explicar um pouco sobre a dinâmica da escola e da aula e trocar
experiências profissionais na educação e na carreira artística em geral.
A aula era pra ser iniciada às 7:30h, porém, a
primeira turma, das(os) alunas(os) do 5º ano, só chegou por volta das 8h e
muito agitada. Começamos a fazer uma dinâmica de apresentação onde uma bola
passava de mão em mão enquanto o professor Marcus tocava e cantava uma música,
quando a música parava, na mão de quem ficou a bola a pessoa teria que
responder duas perguntinhas básicas: Qual é o seu nome?; Qual música, gênero
musical ou cantor(a) você mais gosta? A maioria das respostas referiu-se a
cantora Anita, de funk, da banda Bailão do Robissão ou do cantor Luan Santana.
Algumas pessoas optaram por não responder a segunda pergunta, o que me levou a
acreditar que estavam tímidas por toda pressão que a turma fazia quando havia
um gosto musical diferente.
A dinâmica funcionou quanto apresentação, contudo,
percebi que a turma tem uma energia muito grande e se dispersa com muita
facilidade, o que tornou a dinâmica densa, amarrada, chegando a haver momentos
sérios de conversa do professor Marcus com as(os) alunas(os). As piadinhas eram
frequentes, assim como a gritaria, realmente uma turma difícil de lidar,
contudo, sinceramente, à primeira vista, eu amei a turma. Percebi que na turma
tem muitos olhares bons, o que fazem é reproduzir o que nós, condicionados a
toda repressão consumista, fazemos diariamente, mas os olhares, os sorrisos,
dizem muito mais e além. Próximo ao professor ficaram os tímidos, inclusive tem
um que eu descobri que é o filho de algum(a) professor(a) da escola, no fundo
da sala ficaram os mais agitados. Teve uma menina do fundo que me chamou a
atenção por, apesar de participar da gritaria ela participava de todas as
atividades com foco e um largo sorriso no rosto. Em um momento o professor
Marcus tentou acalmar a turma pedindo que todas(os) fechassem os olhos e
apreciassem uma melodia tocada pelo mesmo com uma flauta doce, percebi um certo
respeito à música de muitos, mas as brincadeiras de dispersão falavam mais alto.
Por fim, cantamos a canção “Peixe Vivo” oralmente e corporalmente, o que foi
muito divertido para todas(os), mas o que a turma ainda não sabe, porque não
deu tempo de falar pelo fato do horário da aula ter terminado, é que a “dancinha”
que fizeram em conjunto com as palavras cantadas foi, na verdade, a comunicação
através da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). E a última imagem que tenho de
mim, do professor Marcus e das(os) alunas(os) daquele horário é a de belos
sorrisos e gargalhadas de alegria.
O que eu traria de reflexão dessa turma é talvez
pudéssemos criar ritmos distintos no início e no fim da aula: no início poderia
ocorrer apreciação musical, canto, ou algo que traga um relaxamento, e do meio
pro final da aula explodia com as atividades mais dinâmicas, pra todo mundo
sair com um gostinho de quero mais.
A segunda turma a entrar foi o 4º ano. Logo quando
a turma chegou senti um clima de carinho e fofurísse no ar quando algumas
garotinhas foram falando em tom animador “Professor!” e dando um abraço gostoso
no professor Marcus, momento em que também me senti abraçado ao contemplar tamanha
verdade. Essa foi uma turma bem tranquila de trabalhar, bem focada, a não ser
por um menino que aparentava ser mais velho do que a maioria. Nessa aula uma
professora da casa foi acompanhar a aula, como de costume, segundo o professor
Marcus, ela era bem respeitada pelas(os) alunos e organizava bastante as dispersões
por mais pequenas que fossem. Ela acabou tirando da sala o menino que brincava
bastante e dispersava a turma, o que me deixou meio pensativo se aquela era a
melhor solução. Cheguei a falar isso com o professor Marcus, ele me explicou a
importância daquela atitude, compreendi, mas, mesmo assim, ainda fiquei
pensando: “será que essa é mesmo a melhor opção?”, talvez porque eu ainda tenha
esse ideal teórico de trabalho em escola bem gritante.
Continuando as atividades na turma do 4º ano,
fizemos atividades parecidas com a anterior e fluíram muito mais. Na pergunta
de que música cada um(a) gostava a maioria da turma falou “Garota de Ipanema”,
e todas(os) sabiam cantar boa parte, tanto que cantamos juntas(os), assim
entendi que aquela música já vinha sendo trabalhada em sala de aula pelo
professor. O canto nessa turma é algo que pode ser bem trabalhado, as
expressões e interpretações são ótimas, todas(os) cantam lindamente.
A terceira turma a chegar foi a do 3º ano. Tuma
pequena, o que tornou a aula mais rápida, porém, as(os) poucas(os) alunos faziam
um barulho considerável, mas participavam bastante. Tem um menino da turma que sentou
do lado do professor e todo instrumento que aparecia ele cutucava pedindo pra
tocar. Acabamos cedendo e deixando um bom espaço da aula para que tocassem
alguns instrumentos.
Nessa turma teve algo que me causou certa reflexão enquanto docente. Dois meninos bem agitados que estavam na frente começaram a
achar bem engraçado o meu cavanhaque e o meu bigode, talvez por ser diferente
do que estão acostumados a ver no dia-a-dia. Isso acabou dispersando bastante a
atividade de canto da canção “Peixe Vivo”. Acabou que no ambiente se instaurou
uma gargalhada coletiva, o professor Marcus parecia não compreender bem o
porque das gargalhas, mas entrou no clima. Os meninos começaram a me inventar
apelido, chamando de “bigode grosso” e um tal de “Comendador” que é de alguma
novela. Sinceramente, não tenho problema algum com apelidos e brincadeiras do
tipo, mas me perguntei se eu tinha que cortar aquilo enquanto docente ou deixar
rolar. Eu acredito que deva cortar, não que isso vá me armar de um dito respeito
ao professor, mas porque vejo que se eu continuar permitindo que apelidem o
diferente a eles, que no caso sou eu, estarei incentivando a prática do bullying.
E vocês? O que acham disso? O que fariam?
A última turma do dia foi a junção do 1º ano com a
G5. Fomos acompanhados por três professoras que cuidam das turmas. Foi bem
legal ter visto a alegria infantil, a espontaneidade, a alegria. A dinâmica
dessa turma é a mais diferente de todas, incluindo historinhas bem divertidas.
Realmente esse foi o meu querido primeiro dia. Me
diverti muito, sorri muito, consegui interagir bastante com o professor, as
turmas, as professoras, a escola como um todo. Só tenho a agradecer à todas(os)
por essa experiência e que ainda tem muitas águas pra rolar.
Esse primeiro diário decidi fazer bem longo por
realmente ser o primeiro e, portanto, à primeira vista registrada me trará um
campo comparativo futuro bem rico para que possa refletir e amadurecer cada vez
mais.
Axé!
Olá Jonatan,
ResponderExcluirA Almerinda é realmente um lugar muito especial, apesar do espaço reduzido amor é o que não falta. Claro que algumas vezes é impossível conter a energia das crianças, meu conselho (se me permite) é que vcs aproveitem esses momentos para criar algo interessante juntos... Quanto ao bigode, não acredito que vc deveria cortar, aproveite para falar de diversidade e que a beleza está na diferença! Com certeza será uma conversa bem legal, as crianças sempre nos surpreendem :D
Ah, seja muito bem-vindo!!!!!
Que linda estreia, Jonatan!!!
ResponderExcluirO seu relato me fez lembrar Rubens Alves. No texto O Olhar do Professor ele diz:
- "Professor: trate de prestar atenção ao seu olhar. Ele é mais importante que os seus planos de aula. O olhar tem o poder de despertar ou, pelo contrário, de intimidar a inteligência. O seu olhar tem um poder mágico!"
Você tem esse olhar sensível e otimista, capaz de ver o que há de melhor nos outros, enxergando muito além das aparências. Continue assim!
P.S.: O texto completo está disponível em:
https://contadoresdestorias.wordpress.com/2012/02/19/o-olhar-do-professor-rubem-alves/
Muito obrigado pelo comentário, Pró Mara. Já li o texto completo e, verdadeiramente, me emocione, Fiquei reflexivo, estou reflexivo...
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