domingo, 12 de julho de 2015

Novo semestre: REcordar, REver. REfazer, REafirmar...

Escola Municipal Almerinda Costa
Bolsista: Jonatan Silva de Oliveira
Data: 06/07/2015


Nesse dia 6 de Julho de 2015 foi o retorno das atividades da Escola Municipal Almerinda Costa após as férias do primeiro semestre. O dia entre o nublado e o aberto, o chão das ruas estava com poças de águas, o que caracteriza que durante à madrugada choveu.
Nessa aula o professor combinou comigo que faríamos um recomeço, uma reapresentação minha e da turma, de forma a firmar as relações e que me desse espaço para fazer o que não fiz no semestre passado, anotações mais constantes, inclusive do nome dos alunos. Professor Marcos ainda falou que levou um CD com algumas músicas para as turmas identificarem que gênero musical era e quem estava cantando.
O 5º ano chegou na sala, estavam bem agitadas(os). Perguntamos como foi o São João de todas(os), muito empolgados começaram a falar das comidas, das músicas, inclusive relatos de que no São João dançaram, em vez de o tradicional forró, um bom pagode baiano. Nessa ideia de diálogo o professor Marcos perguntou que música a turma gostariam de apresentar, aí ouve muita gente falando Anitta, pagode baiano e Simone & Simaria, As Coleguinhas, chegando a cantar a música “Meu Violão E O Nosso Cachorro”. Chegando em casa pesquisei essa música cantada pela turma e gostei bastante, não tem uma letra baixo-astral e nem ostentação e tem uma parte instrumental relativamente rica, onde a introdução inicial é feita com som de piano.  Ainda na aula, tratando do pagode que foi citado pela turma eu fiz a pergunta: “Alguém sabe como surgiu o pagode?”. Disseram que não, então eu expliquei que o pagode vem do samba e o samba vem da umbigada dos negros africanos que foram escravizados no Brasil colônia, expliquei como é que funciona a umbigada, e depois disso cantei um música chamada “Eu Sou Negão”, é um pagode crítico da Banda Fantasmão, e, encontrando uma oportunidade, fiz uma outra pergunta: “Quem se considera negro aqui?”. Várias crianças levantaram as mãos, mas teve uma menina quieta bem perto de mim que não levantou, apesar dela ter falado que gosta de pagode e ter a cor da pele preta e o cabelo crespo, visualizando isso eu perguntei diretamente à ela “porquê você não se considera negra?”, ela respondeu “eu não gosto de nada que vem do negro”, resposta essa que me atingiu em cheio, não que eu nunca tenha visto na vida crianças falando isso ou adultos falando isso, mas nesse momento da minha vida, de muitos estudos sobre as nossas origens, crítica ao nosso sistema e a política que favorece a elite, nunca tinha visto, ou seja, não sabia qual seria a minha reação na prática, foi assim que perguntei “porquê isso?”, ela disse que não sabia, só não gostava, perguntei “você não gosta de pagode? ”, “pagode vem do negro”, ela insistiu dizendo que não gosta, foi quando o professor Marcos teve que intervir dizendo que temos que respeitar as opiniões diversas, porque realmente tinha caído no meu emocional e eu não conseguia aceitar aquilo, algo que tenho que trabalhar. Talvez, em vista de um fato como esse, parte do trabalho musical feito deva tratar da cultura afro-brasileira, inclusive criando apresentação para o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.  Nessa o professor Marcos e eu tivemos certa dificuldade em manter uma certa atenção. Essa é uma turma que precisa de alguns cuidados voltados pra um diálogo mais maduro, um olhar atento a atualidade, ao conteúdo relevante e a crítica.
O 4º ano chegou um pouco agitado, mas bem atendo para a aula. Fizemos as apresentações dos nomes e resolvemos fazer uma dinâmica com os instrumentos de percussão. Um menino que pegou o pandeiro começou a fazer o ritmo de capoeira, sem técnica, mas na ideia correta, falei pra ele que aquilo era capoeira, aí todo mundo da turma começou a fazer e gostar da capoeira, mostrei um pouco da técnica de toque de pandeiro para melhorar o som. O mesmo menino que começou a tocar capoeira também começou a tocar uma música que dizia assim: “toca macumba, Jão! Toca macumba, Jão!”. Fiquei impressionado com ele cantando aquela música, diante de tanto preconceito que há com a macumba. O menino continuou cantando e não ocorreu nenhuma manifestação contra aquela expressão do menino, até que uma menina, com uma cara de assustada falou: “ele falou macumba, não pode, é do diabo!”. Em cima disso, expliquei pra turma o que é macumba e que não há nenhum problema nisso, todas(os) compreenderam e aí continuamos cantando a música. Tocando os instrumentos conseguimos algo muito importante, controlar a intensidade do toque das crianças, o que normalmente não acontecia. Talvez a gente possa usar a capoeira nessa turma para uma apresentação final. Continuando a aula, ainda fizemos a dinâmica de identificação das músicas tocadas no rádio, o que foi muito legal, agitou bastante o interesse da turma em acertar, e tivemos muitos acertos.
No 3º ano a professora responsável já chegou falando com a gente pra ficarmos de olho em quem ficar bagunçando para dar o nome pra ela, o que deixou os alunos bem intimidados. As crianças chegaram falando que queriam tocar todos os instrumentos porque ouviram a turma anterior tocando todos instrumentos, atitude que achei engraçada, até mesmo pela percepção delas(es) em saber que tocamos todos instrumentos e não só um ou dois. Conversamos um pouco e fomos tocar os instrumentos, mas a turma não respeitava o tempo e nem a intensidade dos toques, assim decidimos recolher os instrumentos musicais, foi quando um garoto manifestou-se dizendo emocionado: “a gente já não tem um parquinho aqui na escola pra brincar e ainda na aula de música a gente não pode nem tocar”. Essa expressão dele foi algo importante para eu captar o óbvio: já cheguei a relatar a compreensão dessa turma em resumir a aula de música à oficina de instrumento, mas agora está mais que claro que a falta de um parquinho na escola influencia bastante nessa ideia de extravasar tocando instrumento, é uma carência mesmo de um espaço e tempo para brincadeiras, o que, de certa forma, é refletido na aula de música. No final da aula fizemos a dinâmica de identificação das músicas, o que foi tão bacana quanto na turma anterior.
O 1º ano e o G5 (Grupo 5) chegou com as prós responsáveis. Fizemos uma história musicada que saiu muito boa, o professor Marcos contou a história com o violão e eu fui fazendo a sonoplastia. Recordamos várias atividades passadas com a participação de todas(os). A turma fez o pedido de uma história de terror, o que não sabíamos fazer, mas quem sabe numa próxima a gente não faz.
Esse dia foi bem importante, desafiador. Pude perceber a melhora de atitude de algumas turmas. Com certeza os trabalhos de música estão influenciando nas vidas dessas crianças, na vida do professor Marcos e na minha vida.


Axé!

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