Escola Padre José Anchieta
Data: 23/04/2015
Por Síndney Borges de Oliveira
Escola, Família e Comunidade. Qual o seu verdadeiro papel?
Escola, Família e Comunidade. Qual o seu verdadeiro papel?
Um dia antes de estar na escola (quarta-feira) fiz uma leitura cuidadosa do
texto "Índio é uma invenção total, folclore puro" em entrevista ao
professor doutor Daniel Munduruku, texto inclusive recomendado pela professora
Flávia Candusso. O texto é interessante. Os argumentos dados pelo entrevistado
em relação ao modelo de educação tradicional foi o ponto de maior reflexão.
Concordo que a maneira como é moldada a educação não dá ao aluno a
"compreensão real dos sentidos" como cita. Ora, se temos uma educação
que "aprisiona o pensamento", como mudar essa realidade? Segundo Daniel M. não é
a escola que tem que mudar. Ela também é vítima do Sistema. É a família,
a comunidade, os grandes responsáveis por mudar essa realidade, mas a escola,
na minha visão, tem seu importante papel social.
Minha proposta para
esta quinta-feira era falar sobre o "negro", sobre o
"índio" antes de fazer qualquer atividade prática. Na primeira turma
a professora Isabela cantou a música tema do coral ensaiado por Marisa e Renato,
aproveitei para propor uma sequência coreográfica com meninos e meninas em
separados. Ao final fiquei refletindo como aproveitar o resultado alcançado
e trazer propostas que somem ao resultado atingido.
A distração é
o maior desafio em sala de aula. Percebo que eles entendem as propostas, mas
movidos pela distração acabam por não se concentrarem nas atividades. Como se
as mentes delas estivessem em qualquer lugar, menos na escola. Ou seja, tudo
que criança quer ser é CRIANÇA. Daniel Munduruku defende uma pedagogia onde a
criança seja livre, inteira, intensa de maneira que viva essa fase da vida de
forma plena.
"O
problema da educação não é de forma alguma o que os educadores pensam que é.
Acreditam que os alunos não querem mais o que eles têm a oferecer. Aos alunos
vão querer forçar uma educação irrelevante e estes se defendem com distúrbios
de atenção e com a desmotivação." Cláudio Naranjo.
Propus para a
segunda turma um diálogo. Como tínhamos combinado (eu, Xavier e a professora
Isabela) de dividir a turma, solicitei que um grupo de alunos se dirigisse ao
pátio para que tivéssemos um bate-papo em conjunto. Criança não sabe discernir
o certo do errado se não tiver uma orientação. Tive o cuidado em ouví-las e
fazê-las refletirem sobre o respeito para com os pais, com pessoas mais velhas,
com os professores. Falei um pouco da cultura indígena com base nos dois textos
usados no debate (PIBID/MUS), as respostas foram interessantes, bem dentro
desse estereótipo em que o índio é tratado. Acho que a escola tem que
repensar alguns valores, desconstruir, reconstruir alguns conceitos. A escola
tem que ter autonomia para conduzir os seus alunos a uma almejada liberdade
porque é basicamente na escola que esse estereótipo é ensinado. É na escola que
questões étnicas são trabalhadas de forma equivocadas.
"A crise
da educação não é uma crise entre as muitas crises que temos, uma vez que a
educação é o cerne do problema. O mundo está em uma profunda crise porque não
temos uma educação para a consciência. Nós temos uma
educação de uma forma que está roubando as pessoas de sua consciência, seu
tempo e sua vida." Cláudio Naranjo
Quando leio um
texto como esse e reflito sobre a educação percebo que educar é ensinar a
reproduzir. Reproduzir o pensamento de um autor, só que com outras palavras,
reproduzir uma operação matemática, porque o resultado está lá, você só precisa
encontrá-lo, reproduzir as notas musicais, tocando-as, a letra de uma música,
cantando-a,... e isso me incomoda, muito! Acho que a criança precisa desenvolver a consciência sobre as coisas e da importância ou não que se deve
dar a elas. O ideal de liberdade é para que a criança se torne um adulto
consciente. Consciente de valores simples ou complexos, que perpassem desde um
gesto de gratidão, um aperto de mão, um abraço, independente de classe social,
credo religioso e da sua cultura. "A escola aprisiona o
pensamento nessas categorias de certo, errado, bom e mau". (D.
Muduruku). Conscientes do respeito ao negro, ao branco, ao índio, ao
pobre, ao rico, simplesmente porque somos humanos. Conscientes de respeito à
vida acima de tudo e isso inclui a preservação consciente do nosso próprio
habitat. É papel da família construir essa consciência. É papel da escola elevar essa consciência e é na vida em comunidade que esse reflexo é sentido.
Falamos demais e agimos de menos.
Será que estamos realmente preocupados com a melhoria na "educação"
do ponto de vista de querer solucioná-la ou com o salário recheado no final do
mês?
"Autores, estudiosos e afins, nunca saem de seu conforto para
enfrentar uma sala de aula ou as agruras da sociedade. É fácil dar soluções
para os problemas do "vizinho" deitado no sofá." Jane Brito.
Excelente reflexão e excelente relato, Sindney!!
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