Escola Padre José Anchieta
Data: 16/09
Bolsista:
Caíque Veloso
Hoje a aula de música com o 4° e
3° anos foi sobre o Ijexá, e percebi que ainda alguns alunos tem uma concepção
já pronta sobre o ritmo dizendo que “isso é coisa de MACUMBA, portanto, isso é
algo ruim, então, não devo fazer”. É aquela visão estereotipada sobre tal
coisa, sobretudo, quando se trata de um ritmo que a maioria já ouviu, por que
simplesmente vão associando mediante as concepções de familiares, amigos, ou
por influências midiáticas e etc. Desfazer esse ponto de vista errôneo ou esse
preconceito enraizado da questão é uma tarefa que não é fácil, e requer paciência,
reflexão e muito jogo de cintura para lidar com o preconceito sem agir de forma
preconceituosa com os alunos. O ritmo foi contextualizado por mim e pela
professora Isabela, e aproveitei para falar sobre o afoxé Filhos de Gandhy que
só toca IJEXÁ e em seguida relatei a importância de Mahatma Gandhi que
influenciou na escolha do nome Filhos de Gandhi e relatei como tudo aconteceu. Conhecemos
a história do Afoxé, descobrimos quem eram as pessoas que desfilavam desde a
fundação do bloco (os estivadores do porto de Salvador) até os dias
atuais.
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(desenho feito por mim para ilustrar os instrumentos característicos do IJEXÁ). |
Os instrumentos característicos
do Ijexá são eles: xequerês, atabaques (Rum, rumpi, lê), agogôs. E durante a
aula marcamos as células rítmicas de cada um deles com o nosso próprio corpo. Dividi a sala em atabaques, cada grupo responsável por uma
célula especifica dos atabaques, e solicitei que enquanto marcassem as células
rítmicas fizessem também o som com a boca para facilitar mais e mais o
processo. Exceto o RUM, pois, é um
instrumento que varia muito de ritmo, pois depende muito do momento em que está
sendo tocado nas casas religiosas, ou daquilo que se quer dizer para o orixá.
Ai me preocupei mais em marcar a célula rítmica do RUMPI ( tum, tum, tá, tá.. )
peito e barriga, e do LÊ ( tá, tum, tá.. ) mão e peito. E os xequerês (
xixixiixixi..) e do agogô ( cá, cá, cô, cô , cá, cá, cô, cô, cô.. ). Em seguida
ouvimos a canção TODA MENINA BAIANA do cantor e compositor Gilberto Gil, e
acompanhamos tocando, ai eu perguntei foi fácil tocar o IJEXÁ? E um Não bem
alto exclamou de toda a turma. Eu estava
bem seguro no momento em que assumi a atividade, suponho que deve ser por que
já é algo que conheço um pouco, pois em algumas disciplinas apresentei
trabalhos relacionados, fiz um artigo sobre o mesmo, e venho escutando
diariamente discos inerentes ao ritmo. Eu só sei que foi bastante divertido,
mas foi um trabalho que percebi que na turma do 3° ano fluiu de forma
significativa, os educandos foram participativos, e abraçaram a atividade,
chegamos até mesmo a dançar o IJEXÁ, pois, como todos os outros ritmos
abordados pela professora Isabela até então, tem uma dança específica. Já com o 4° ano a turma estava conversando
demais, a professora estava tentando falar e não conseguindo, infelizmente teve
de colocar uma aluna até para fora da sala, porque estava enfrentando-a, é
claro que não devemos excluir, mas chega uma hora que eu acho que tudo tem
limites. Enfim, consegui desenvolver pouca coisa com essa turma devido ao mal
comportamento, e porque também quando começamos de fato, já estava na hora de
terminar, mas até que o final foi bem produtivo e divertido.
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A aula estava tão boa que até a professora que estava passando pelo corredor não resistiu e foi dar uma espiadinha. Depois nos parabenizou lá fora, olha ela ali na porta tirando uma foto. |
TODA MENINA BAIANA
Um santo que Deus dá
Toda menina baiana tem
Encantos que Deus dá
Toda menina baiana tem
Um jeito que Deus dá
Toda menina baiana tem
Defeitos também que Deus dá
Canção: toda menina baiana
Composição: Gilberto Gil
Álbum: Realce
Ano: 1979
Muito legal, Caique!
ResponderExcluirAnos atrás, um seu predecessor pibidiano, Ricardo Ribeiro, aproveitou esta mesma situação tb provocada por um ijexá, na qual os alunos começaram a falar em macumba para tratar o assunto de vez. Explicou que o demônio, ao qual as crianças sempre fazem referência ao ouvir música afro-brasileira, na verdade é uma criação da religião cristã e que no candomblé não existe esta figura. Enfim, pegou todos os comentários e começou a desconstrui-los.
Vou procurar este relato e coloco aqui. Talvez possa inspirar futuras conversas.
Acho que valeria a pena aprofundar a coisa, caso as crianças puxem a mesma conversa :)
Com certeza vão puxar essa mesma conversa, percebo que o trabalho vai ser um pouco difícil nessa parte, mas creio que já deu tudo certo. Percebo que alguns alunos tem essa ideia de MACUMBA e demonização do ritmo muito forte dentro deles, é algo que parece estar enraizado mesmo, porém, eles até fazem as atividades, mas no fundo no fundo, ainda ficam com o pé atrás. Aos poucos esses olhares negativos serão desfeitos, e assim, perceberão a riqueza, a beleza do ritmo e sua principal contribuição para a vida deles. É claro que não podemos negar que tem um parte da sala que já percebeu isso, até porque, observo a maneira que eles estão envolvidos na hora de dançar, cantar ou tocar o ijexá, pois se entregam efetivamente no fazer musical, nas discussões sobre o ritmo e etc. E também o ritmo é muito envolvente, a cadência, a leveza no dançar, o toque, a harmonia dos atabaques, e desse jeito ninguém consegue ficar parado.
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