quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Capoeira e diversidade

Escola Municipal Almerinda Costa
Jonatan S. de Oliveira
5 de Agosto de 2015


No dia 5 de Agosto de 2015 fui para Almerinda Costa para mais um dia de acompanhamento das aulas do Professor de Música Marcus Welby. Nesse dia demos continuidade aos trabalhos de capoeira na escola e dessa vez seria com as turmas 4º ano e 5º ano. Quando eu e o professor vínhamos chegando na sala destinada à música dois meninos do 3º ano vieram gritando e empurrando eu e o professor, pegando nos instrumentos, desrespeitando a nossa presença, fato esse que levou o Marcus a chamar o coordenador.

A primeira turma a chegar foi o 5º. A turma ficou bastante atenta a história sobre a capoeira, aí o professor Marcus propôs um exercício de perguntas e respostas sobre o que a turma vinha aprendendo no diálogo. Pelo curto tempo, só conseguimos apresentar os instrumentos e depois fizemos as perguntas, onde a turma anotava e respondia para que no final fosse corrigido. A turma ficou com muita dificuldade em acompanhar as perguntas feitas com a escrita, mas tiveram bom desempenho nas respostas, mostrando o quanto estavam buscando comprometimento com o assunto. Eu notei que a turma se dispersava bem menos em aula de escrever do que nas aulas mais dinâmicas, o que parece natural pela repercussão interativa natural que aulas dinâmicas dão, mas não vou mentir que isso me deixou com uma “pulga atrás da orelha”.
A segunda turma foi o 4º ano. A sala estava bastante cheia e o pessoal animado. Iniciamos a falar sobre a história do povo negro e chegamos a pegar um globo terrestre para mostrar a África, porém a turma realmente não estava colaborando. Então tivemos que pular temporariamente essa etapa para ir direto para as perguntas e respostas, o que deixou muita gente chateada com as/os colegas que não paravam quietos. No momento da cópia dos exercícios a turma ficou bem atenta, também com dificuldade na escrita, mas buscando escrever e responder tudo. No momento das perguntas e respostas a gente foi ao mesmo tempo que respondendo contando as histórias que faltavam, ou seja, mudamos as ordens dos fatores mas seguimos com o programado. Ao final, com tempo ainda de aula, decidimos fazer a parte mais musical, foi quando algumas brincadeiras com a palavra macumba surgiram, o que me fez parar a aula para explicar o que é macumba, que devemos respeitar a diversidade cultural. Enquanto a parte de toques ia acontecendo teve um menino que não parava quieto, tive que chamar a atenção dele algumas vezes e inclusive pedi para o professor tirar ele da sala porque ele estava desrespeitando muito as/os colegas e a mim e o professor,  o menino pediu desculpas e pediu mais uma chance, o professor Marcus deu mais uma chance. Nessa mais uma chance ele ficou mais atento e respeitoso, mas mesmo assim fazia uma bagunça ali e aqui, mas aí chegou um momento extremo: ele levantou e foi passando na frente da colega e pisou no pé dela, ela descontou, aí uma pequena discussão aconteceu entre os dois e aí ele, em busca de ofende-la, a chamou de “nega do bozó”, uma expressão racista, na mesma hora eu abri o olho e seriamente olhando para ele perguntei “o quê?”, “você tem noção do que você acabou de falar?”, nesse momento comentei pra toda sala a gravidade daquilo que ele havia falado e pedi licença para o professor Marcus para leva-lo pra diretoria. Antes de leva-lo, conversei no corredor com ele sobre o que ele havia dito, falei a realidade da sociedade e o preconceito racial que há, ele ficou bem arrependido, parece que compreendeu a gravidade da palavra racista. Levei ele para a diretoria e o coordenador recebeu ele e também conversou bastante sobre a prática racista na sociedade. Foi um momento muito importante, no meu ver, percebi que quando tomei aquela atitude muita gente da turma percebeu que as nossas ações na sociedade são muito sérias, que o povo negro tem muito valor e merece muito respeito. Retornando  pra sala o professor Marcus continuava a aula de instrumentos de capoeira e percebi que essa turma foi a que mais desenvolveu na maioria dos instrumentos, inclusive têm duas pessoas da turma que fazem capoeira, o que facilitou bastante a troca de saberes.
No fim o professor Marcus comentou comigo que achou a aula muito proveitosa, o que coincidiu com a minha opinião.
Foi um dia muito cansativo, mas muito bom por estar lidando com mais esse desafio da docência.


Axé!

Um comentário:

  1. Jonatan, atitudes e racismo como esta não podem passar em branco, o professor deve intervir imediatamente, como você o fez. Recomendo que vocês leiam o livro Superando o Racismo na Escola. É uma publicação do MEC e está disponível em:
    http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf

    ResponderExcluir