domingo, 16 de agosto de 2015

Escola Municipal Padre José de Anchieta
Bolsista: Síndney Borges de Oliveira
Data: 13.08.2015


                  Estou lendo um livro que fala sobre “o ensino da música na escola fundamental”, é exatamente esse o título, de Alícia Maria Loureiro. O livro fala sobre o ensino da música ao longo dos séculos, sim, dos séculos, porque há registros da sua implantação por meio da catequização dos índios. O ensino da música foi uma forma de intromissão cultural, uma tática civilizatória para um povo tido como “selvagem”. Ao longo da leitura passei a refletir sobre o poder da música e de como ela foi usada ao longo do tempo como forma de educar, mas também de manipular, aculturar um povo. O ensino musical sempre esteve presente no Brasil. Uma vez colonizado por europeus, a influência da música européia foi o marco para o ensino da música e em alguns períodos associada à categoria das classes dominantes, da elite brasileira. Durante muito tempo pouca importância se deu (do ponto de vista positivo) às culturas africanas e indígenas que também faziam partes da nossa vivência cultural e constituíam a nossa cultura. Muito provavelmente se entendessemos a nossa cultura, tal como ela é, o ensino da música das culturas africanas e indígenas não encontrariam tantas resistências, diminuindo assim o preconceito. As nossas relações sociais se constituiriam de forma mais harmoniosa e igualitária. 


           Minha vivência escolar me faz enxergar que a resistência dos alunos em aprender o ensino da música é equivalente à resistência ao ensino do inglês, por exemplo, tendo por base o discurso de uma professora. Seria como impor uma cultura da qual eles não fazem parte, Daí a resistência. Confesso que já fui questionado por um aluno sobre a importância do ensino da música na escola. Embora as possíveis respostas estejam ligadas à parte cognitiva, não dei uma resposta passível de entendimento porque tem o lado da satisfação pessoal. Para se aprender algo você precisa estar disposto a aprendê-lo. E eu não consigo sentir isso da maioria dos alunos. Também não gostaria de pensar no ensino da música como um meio, porque se eu ensino a música para o desenvolvimento de outras habilidades como a matemática, a física, por exemplo, eu acabo por reforçar um pensamento erróneo sobre o ensino musical, mas que é alimentado por muitos teóricos da educação.

O livro não apresenta uma fórmula de como se ensinar música na escola fundamental, mas nos norteia quanto à sua importância, fazendo uma forte crítica às formas de ensino de música nas escolas, que muita das vezes é confundido com o ensino de canções para apresentações em datas comemorativas do calendário escolar e que acabam por enfraquecer a categoria. Tenho visto isso na prática. 

“o ensino da música como disciplina inserida no currículo da escola apresenta-se hoje como uma área de conhecimento em que a diversidade de funções e a variedade de abordagens impedem a construção de uma prática educativa democrática, abrangente, formativa”. (A. M. Loureiro, pg 24.)

A música é uma ciência, tão complexa como a matemática, a astronomia, a física,... e deve ser entendida como tal, principalmente pelo corpo que administra as escolas. Entender todo esse processo histórico nos ajuda a compreender como se dá o ensino da música na contemporaneidade. Se existe um conteúdo programático para as disciplinas tradicionais, porque para o ensino musical não há essa prática democrática, como a autora cita no livro? Às vezes ao propor uma atividade para os alunos sinto que não há retorno por conta de uma deficiência reflexiva sobre o que se propõe, ou seja, falta base!

A autora cita também alguns autores que inovaram o ensino musical, como Dalcroze, Martenot, Kódaly (pg 53) que atribuíram atividades lúdicas no ensino da música. A música que interage com o corpo, com o espaço, com esses corpos no tempo e no espaço. Na minha vivência e experiência na escola, tenho percebido que as atividades práticas propostas têm permitido uma maior participação e assimilação dos conteúdos musicais. Acho interessante por provocar a interação dos alunos de maneira respeitosa, fazendo com que eles percebam o espaço, o seu espaço, o espaço do outro, aprendendo a se relacionarem socialmente. Mas!

Nesse laboratório musical sinto que ainda há muito a se fazer.

De repente algo inusitado acontece. De origem comportamental. Como lidar? 

Quem pensa que assuntos ligados à condição sexual é tema para discussão entre adolescentes e adultos está enganado. Mas como tratar com crianças, temáticas tão movidas à preconceitos, como a questão da homossexualidade? Pior! Como se assumir homossexual tão precocemente? 
Essa experiência eu presenciei com a turma do 5º ano e confesso que o que me causou certa perplexidade não foi a confissão em si, mas o fato de não saber reagir àquela situação. 

A intolerância social. Vamos discutir esse assunto?????  

2 comentários:

  1. Sindney, gosto muito dos seus relatos reflexivos. Penso que muitas vezes essa "resistência" dos alunos se dá por conta da distância entre as práticas musicais deles fora da escola e a aula de música. Na maioria das vezes são universos completamente diferentes. Concordando com Charlot, “aprender faz sentido por referência à história do sujeito, às suas expectativas, às suas referências, à sua concepção de vida, às suas relações com os outros, à imagem que tem de si e à que quer dar de si aos outros.” (Charlot, 2000, p. 72)

    Recomendo o artigo da Jusamara Souza "Educação musical e práticas sociais". Está na revista da ABEM n.10 de 2004. Vou enviar para o seu email. Se alguém mais quiser, pode ser baixado no site da Abem.

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