Escola Padre José de Anchieta
Data: 12/08/2015 – vivência
Data: 13/08/2015 – postagem
Por Caíque Veloso de Oliveira
Porque
o meu jeito de ser te incomoda tanto?
Olá meu povo Pibidiano!
A professora estava em reunião na secretaria de educação e
por isso o comando ontem foi dos bolsistas, eu e o Sidney. O nosso encontro
semanal com as turmas é sempre maravilhoso, prazeroso, desafiador, enriquecedor
e com certeza nos proporciona um grande aprendizado. Na aula de hoje eu retomei
o assunto que havia ensinado na aula passada cujo tema foi notação musical. Perguntei aos alunos do 1º ano o que
foi que eu tinha falado na última aula e o que eles tinham feito. Um aluno levantou
a mão dizendo: pentagrama e outro aluno disse sol. Eu como não sou besta,
percebi que a turma já havia esquecido, mas alguns alunos lembravam e, então,
fui colocando no quadro o que eles falavam como, por exemplo, notas musicais,
“Pautagrama” (termo utilizado por um aluno) ou “grade de churrasco” para se
referir ao pentagrama.
Eu mostrei aos alunos onde as notas musicais estavam localizadas
na pauta e em seguida apliquei uma atividade e dividi a turma em dois grandes
grupos (A e B) para responder as perguntas depois da explicação anterior. Os
alunos estavam concentrados na atividade e prestando bastante atenção, mas na
hora de responder as perguntas percebi que alguns alunos do grupo B ficavam
morrendo de vontade de responder as perguntas que eu fazia para o grupo A,
porém, de acordo com as regras do jogo se um aluno do grupo A, por exemplo,
respondesse para o grupo B, ele doaria um ponto para este grupo. Para saber se todo mundo havia aprendido, eu
pedi a cada representante de seu grupo para colocar no pentagrama que eu
desenhei no quadro, onde a nota musical está localizada na clave de sol.
Nesse momento todo mundo queria ir ao quadro para mostrar que sabia, e ao final
da atividade, fizemos uma roda no canto da sala para apreciar uma linda
história do livro Brincando com música – a descoberta das notas (Carla Magnan e
Gabriella Solari) com o áudio que o Sidney trouxe no pen drive, então, deitamos
no chão para relaxarmos mais. Ao final da história eu perguntei aos alunos
sobre a mesma para saber se eles estavam prestando atenção e eles começaram a
contar. Está pensando que acabou por ai?
Não... Todo mundo ficou pé para cantarmos a canção “Samba lelê” explorando a
lateralidade (esquerdo e direito), a intensidade (forte e fraco) e a mudança de
andamento (rápido e lento) e foi muito divertido esse momento, pois fizemos
alguns movimentos corporais e brincamos de estátua sob o comando do violão. E
ao final da canção, o mais importante foi deixar os alunos com aquele “gostinho
de quero mais” e se vocês observarem nos relatos anteriores, eu sempre falo que
essa turma do 1º ano abraça as atividades que eu proponho, pois os alunos são
muito participativos e carinhosos com os bolsistas.
Com a turma do 5º ano, como na quarta-feira passada eles não
tiveram aula de música, eu apliquei a mesma atividade do 4º ano da semana
passada e distribui juntamente com o Sidney, as folhas de pauta para
exercitarmos a escrita da clave de sol na mesma. Solicitei que os alunos
fizessem pelo menos umas dez claves de sol, mas não de qualquer jeito e sim com
perfeição. No início da aula percebi um clima pesado entre os alunos logo
quando eu entrei na sala, no entanto, tudo seguia bem, de repente, uma aluna
saiu do seu lugar e foi em direção à outra que estava sentada lá no canto da
sala e quando a mesma voltou para o seu lugar, a outra se levantou e foi em
direção à porta, abriu e saiu furiosa para ir à diretoria.
Alguns alunos da
turma estavam dizendo que essa aluna que saio gostava de menina e não de
menino. Então, eu entendi porque ela saio tão furiosa e depois voltou mais furiosa ainda
e começou a discutir com outra aluna e a agredi-la verbalmente de vários nomes
que prefiro nem comentar. Eu pedi para que ela sentasse
novamente em seu lugar e tivesse um pouco mais de respeito para com a colega, a
turma e nós bolsistas. Eu procurei
acalmá-la com palavras, mas ela não parava de jeito nenhum de falar. Então, ela
veio até a frente do quadro e começou a perguntar a turma qual o problema de
ela ser assim? E disse: se eu sou assim ninguém tem nada a ver com isso. E ai
eu decidi dar um tempo, sentei-me e comecei a falar sobre o tempo que estávamos
perdendo e que eu ia esperar o silêncio da turma caso contrário eu poderia
sair.
A turma se acalmou,
e eu comecei a aplicar a atividade e passar de carteira em carteira para tirar
dúvidas em relação ao exercício aplicado.
Percebi que todo mundo estava fazendo a atividade e alguns capricharam
no desenho da clave e as meninas que estavam discutindo no início da aula
também estavam fazendo e já estavam conversando de novo sobre o mesmo assunto
só que não mais agredindo ninguém verbalmente. Ontem também notei uma aluna que
pirraça muito a professora, não faz as atividade, às vezes, conversa bastante
com seu primo que também está na mesma turma e que inclusive é a mesma que
chama algumas propostas da professora e que nós bolsistas trazemos de
“macumba”. Ela estava muito participativa e caprichou no desenho das claves de
sol no pentagrama.
O que o professor deve fazer numa situação como essa que
acabei de descrever acima? Ouvir somente o que os alunos têm a dizer? Portanto,
se a gente como professor deve intervir, então, como se faz essa
intervenção? Já que de um lado o
professor tem a turma opressora (que são os meninos e as meninas que fazem a
algazarra no momento em que o clima fica tenso e ainda colocam lenha na
fogueira para ver o circo pegar fogo) e do outro, o aluno oprimido pelo seu
jeito de ser, vestir, andar, falar, olhar, sentir e etc. Pois é! São questões
para refletirmos e dialogarmos e, principalmente, buscarmos soluções que nos
ajudem de alguma forma.
Eu conversei com a turma no momento em que isso tudo
aconteceu, o Sidney também se manifestou conversando e ficou chocado com a
situação, pois no tempo de escola dele essas discussões não eram tão comuns
assim. Eu já presenciei diversas situações como essa e inclusive no meu tempo
de escola era muito comum discutir entre os alunos a opção sexual dos outros. E
se o outro fosse diferente, nós meninos não aceitávamos, pois eu me lembro de
que o preconceito era muito forte em mim nos meus colegas de classe, mas com o
tempo eu fui aprendendo a lidar com isso e consegui desfazer todo esse
preconceito enraizado. Na escola é o lugar ideal de aprender que independente
de qualquer coisa, toda é pessoa é livre para ser o que quiser na vida, pois
não se trata de escolhas, se fosse somente uma questão de escolha com a
sociedade tão preconceituosa que nós temos, infelizmente, ninguém escolheria
ser algo que é tão mal visto assim o tempo inteiro ou tão perseguido por não se
enquadrar em determinados moldes. Não devemos esquecer que somos todos seres
humanos e o respeito ao próximo é crucial sempre e uma prioridade de todo
cidadão.
Caíque, com a sexualidade cada vez mais acentuada e precoce esses temas surgem cada vez mais cedo na sala de aula. O professor deve intervir e mediar o diálogo. Talvez esta seja a única oportunidade, uma vez que estes temas são raramente discutidos em outros contextos como em casa ou na igreja, dentre outros. Já que estão com esta questão muito latente nesta turma, recomendo que vocês estudem o volume 10 dos PCNs, Temas transversais: orientação sexual.
ResponderExcluir"A primeira parte deste documento justifica a importância de incluir Orientação Sexual como tema transversal nos currículos, discorre sobre a postura do educador e da escola, descrevendo, para tanto, as referências necessárias à atuação educacional ao tratar do assunto, trabalho que se diferencia do tratamento da questão no ambiente familiar. Aborda ainda, por meio dos objetivos gerais, as capacidades a serem desenvolvidas pelos alunos do ensino fundamental."